Fichamento do livro " A vida sensível" - Emanuele Coccia
- Thamiris David
- 22 de ago. de 2015
- 5 min de leitura

“Somente a vida pode sustentar outra vida”. Julien Joseph-Virey
I Pág. 10-12
No primeiro capitulo o ator fala sobre o peso que a sensibilidade tem sobre o ser humano. Com o sensível, nossos sentidos se tornam mais apurados e as coisas passam a ter um significado. Porém nem sempre se percebe isso pois o sensível define nossa vida quando não há especificidade humana.
A vida animal é vista como uma vida sensível. Cada animal se abre ao sensível de alguma forma, o que os proporciona uma capacidade de interação viva.
As imagens contribuem com isso a partir do momento que elas desenvolvem a imaginação.
2 Pág. 12-14
A existência do sensível não seria algo para se descobrir porque ela não é separável de um indivíduo capaz de adquirir conhecimento e que através do mesmo conhece a realidade. A existência do homem é o suficiente para explicar tanto a existência como o funcionamento da sensação.
FÍSICA DO SENSÍVEL Pág.17-40
O sensível não é algo psíquico. Para ser sensível precisamos do mundo como um todo para percebermos tudo ao nosso redor. A existência do sensível também não se dá somente pela existência do mundo. Para o sensível se parecer com o real e o real se parecer com o mundo, é preciso que eles se tornem sensíveis. É preciso também que o objeto real, o mundo torne-se um fenômeno.
A forma com que as coisas se tornam sensíveis é diferente do processo pelo qual elas existem e também é diferente como elas são percebidas por um sujeito que adquiriu conhecimento.
Natureza é o nascimento das coisas. A ciência disso se chama física. A física do sensível não pode coincidir com a psicologia e nem se reduzir à ciência das coisas.
Para que haja sensível “É necessário que exista algo intermediário” (bôst’ amagkaion ti einci metaxu, De anima, 419 a 20). É nesse espaço intermediário que as coisas se tornam sensíveis e é desse mesmo espaço que os viventes colhem o sensível com o qual, noite e dia, nutrem suas próprias almas”. (COCCIA, Emanuele, pág. 19-20).
No espelho o sujeito se transforma em algo sensível, uma imagem sem corpo e sem consciência. Quando ficamos em frente ao espelho fazemos uma duplicação em duas esferas separadas: a carne e o espírito; a imagem e o corpo, mostrando que a visibilidade é mesmo separável da coisa e do sujeito.
“Com isso, podemos concluir que a imagem (o sensível) não é senão a existência de algo fora do próprio lugar”.( COCCIA, Emanuele. Pág. 22-24). Toda imagem começa com a separação da forma e da coisa em relação ao lugar de existência. A imagem não define exterioridade. O espaço é o mundo onde tudo existe fora das outras coisas e de si mesmo. A imagem é um fora absoluto, fora da alma e dos corpos.
A imagem num espelho não aumenta peso e volume. No espelho a imagem continua na superfície de origem, ela não se eleva. A imagem no espelho não é determinada pela quantidade, pois quando ele se quebra o que é apresentado em seus pedaços é a imagem inteira e não em partes. Imagem é aquilo cuja natureza nunca mudará, diferentemente do que acontece fora do espelho, e elas estão em toda parte: no ar, na água, sobre os vidros, sobre a madeira.
A experiência do espelho nos mostra que a imagem não é acidente de uma consciência, e sim uma modalidade particular do ser.
Se há sensível no universo é porque não podemos enxergar todas as coisas apenas com os olhos. O mundo das imagens (o mundo sensível) é onde a natureza e cultura, vida e história exilam-se num terceiro espaço.
Um mundo que não tivesse cores, música, sons, cheiros, seria um mundo privado de consistência unitária.
As imagens têm uma função cosmológica e não apenas física. Elas permitem a espiritualização do corpo e do espirito. Para Coccia, na imagem, no sensível, a realidade está num estado pré-psicológico. Todo meio transforma, então, a realidade em algo infinitamente apropriável.
ANTROPOLOGIA DO SENSÍVEL Pág. 43-95
O homem supera todos os outros animais pois fala, desenha, emite odores, esquematiza. A vida animal nutre-se de imagens e sobrevive graças a elas. Todos os nossos hábitos estão ligados a um sensível desencarnado do nosso corpo. É somente através do sensível que podemos agir sobre as coisas.
A vida superior de cada animal não está na ação e nem na produção, mas no que é invisível aos meios. Temos ligação com o espaço onde tudo tem a consistência de uma imagem. É através do sensível que produzimos efeitos sobre a realidade enquanto viventes e através de nossa aparência que provocamos uma boa impressão para quem está ao nosso redor. O que caracteriza o ser humano é sua capacidade de produzir imagens das coisas.
Coccia diz que toda imagem é o ser do conhecimento em ato fora do sujeito.
Uma imagem é a forma de um objeto enquanto podemos percebê-lo.
O vivente não está apenas no mundo, porém o mundo está intencionalmente nele. Cada vez que se produz conhecimento não se pode evitar a alienação do mundo.
A antropologia de Lacan faz o indivíduo imitar-se. Antigamente o homem deveria imitar a Deus e agora para os modernos, o homem deve imitar a si mesmo. Por isso a ligação das imagens.
Para Lacan o filho do homem é menos inteligente do que um filhote de chipanzé mas sabe se identificar com sua própria imagem. Somente o homem consegue fazer do sensível a sua consistência.
Sonhar quer dizer imaginar. Nós mesmos não temos outro corpo se não o que imaginamos. A imaginação humana deixa de definir-se por uma relação exterior e passa a ser relacionada com o fato, as formas, o ritmo de nossa existência.
O sonho é a experiência de um corpo delineado pelo sensível.
O corpo é apenas uma parte do que somos, aquilo que nele existe é a outra metade.
O sensível, a imagem, faz existir as coisas em particular.
A experiência, a vida sensível, sempre está para além daquilo em que se produziu. Ela está em todo lugar e de toda forma.
Uma imagem é aquilo que permite ao sujeito apropriar-se de algo sem transformar sua natureza. Todo meio não é somente aquilo que recebe, é também um transmissor, permite a todos apropriarem-se das imagens. É em imagens que a vida pode ser transmitida tanto nas coisas boas quanto nas ruins. Toda imagem é um fragmento de sonho. No sonho podemos nos comunicar com os mortos e consigo mesmo e transmitir todas as verdades (divinas e humanas).
As imagens que emitimos produzem efeitos. O primeiro efeito da imagem é sempre outra imagem. Todo vivente antes de tudo é uma aparência, imagem, forma, figura.
Uma roupa é antes um corpo. Vestir-se significa completar nosso corpo, e é por meio dela que revelamos quem somos. A roupa é um corpo que se apresenta apenas como imagem,
A moda é o lugar onde fazemos imagem. Por isso, é na moda que a vida sensível absorve toda moral. Somos seres morais porque podemos ter roupa e porque fazemos moda.
Para Coccia a vida sensível é essa eternidade difusa e impessoal, indiferente à morte e ao nascimento, o plano no qual podemos nascer e renascer continuamente, sem jamais pressupor um passado ou uma história, sem ter a necessidade de nos transformarmos.A imagem consegue capturar o real e transformar em algo que exista além de si mesmo. É exatamente assim que o sentido dá vida ao que não tem vida.
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